agosto 28, 2008

Joinville, a Cidade...dos Carros?

Toda vez que o cidadão cai nos tradicionais engarrafamentos de Joinville , penso que deve-se fazer a mesma pergunta que me fiz hoje à caminho da Metro: onde foram parar as zicas da “Cidade das Bicicletas”?

Parece incoerente ver tantos esforços para tentar adequar e adaptar a cidade em função dos automóveis, com a criação de elevados, viadutos, corredores, áreas de estacionamentos, etc. Não deveria ser o contrário, de modo que os meios de transporte respeitassem e não interferissem no espaço público? Deveríamos concentrar nossa energia criando medidas restritivas, um conceito de uso responsável do automóvel, com pedágios urbanos, áreas e horários proibidos à circulação de veículos, etc., como acontece em algumas capitais da Europa.

A cidade vive uma briga interna por espaço. Não é possível que no Brasil cerca de 80% da população ande a pé ou de transporte público e os 20% que se locomovem em automóvel particular ocupem 70% do espaço da cidade. Isso é privatização do espaço público, como diz Liane Born, da ONG Rua Viva, em uma entrevista que li recentemente.

Na entrevista ela fala de um conceito muito interessante: a teoria do não-transporte, a qual propõe um novo paradigma para a apropriação do espaço e do tempo na circulação das pessoas nas cidades. Em vez de mais meios de transporte, menos distâncias e menor necessidade de deslocamento. No lugar do carro, pedalar, bater perna e quando necessário tomar ônibus ou metrô. Priorizar a acessibilidade e a mobilidade de pessoas, e não de veículos.


A teoria tem décadas de existência, mas está mais atual do que nunca. Vivemos a era do automóvel. As praças e parques (que Joinville nem tem) assim como locais históricos perdem espaço para avenidas e estacionamentos (olha a Casa Amarela aí gente!).

Segundo Born, o não-transporte trabalha a seguinte lógica de planejamento urbano: em vez de pensar a cidade segmentada, com zonas industriais, residenciais, etc., prioriza o fortalecimento dos centros dos bairros de modo a diminuir a necessidade de deslocamento e aumentar o acesso aos bens e serviços. Oferecer emprego, comércio, serviços públicos nos bairros.


Em Belo Horizonte, por exemplo, o usuário paga apenas 30% da tarifa para circular dentro do bairro e redondezas. Assim, para fazer uma carteira de identidade, ir ao supermercado ou feira o usuário circula apenas pelo bairro. O empregador contrata gente dali, pois o vale-transporte sai 30% mais barato.


É o transporte não como meio de locomoção, mas como indutor de um novo padrão de comportamento que pode impulsionar o desenvolvimento ao mudar a movimentação na cidade. Nada mais oportuno para estes tempos de campanha política em uma cidade de quinhentos mil habitantes e mais de duzentos mil veículos.

A seção "Post Verde" deste blog pretende informar e reunir algumas ações, publicadas aqui, que levarão à construção de um mundo melhor e mais civilizado, com desenvolvimento e sem comprometer o futuro.

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