junho 19, 2012

Paulista "picha" curador da Bienal de Berlim








Convidados da Bienal de Berlim, aberta no fim de abril, pichadores brasileiros se envolveram numa confusão com os organizadores que teve como saldo a "pichação" do curador da mostra, o artista polonês Artur Zmijewski.


Em meio a uma discussão depois que os brasileiros picharam uma igreja na qual dariam um workshop, Djan Ivson, ou Cripta Djan, 26, o mesmo que pichou o espaço vazio da Bienal de 2010 em São Paulo, esguichou tinta amarela em Zmijewski. Segundo Cripta, foi uma reação a um balde d'água suja atirado pelo curador.


Parte da programação da bienal, o workshop dos pichadores brasileiros ocorreria no último sábado na igreja de Santa Elizabeth.Caracterizada pela ousadia curatorial, a bienal berlinense tem como título de sua sétima edição "Forget Fear" (esqueça o medo).




De acordo com o relato de Cripta, que estava acompanhado de outros três colegas do movimento "Pixação" (Biscoito, William e R.C.), o grupo chegou disposto a demonstrar seu trabalho, mas não no formato didático tradicional de um workshop.


Os convidados passaram a escalar o prédio da igreja e a pichar. Segundo Cripta, os organizadores se desesperaram com a atitude e disseram que eles não estavam autorizados a mexer naqueles lugares. "Não tem como dar workshop de pichação, porque pichação só acontece pela transgressão e no contexto da rua", disse Cripta à Folha, por telefone. "Assim que é bom. Se não é pra pichar, nós vamos pichar. Não adianta querer controlar o incontrolável."


O pichador conta que, em seguida, Zmijewski também atirou tinta nele. Cripta então disse ter pensado: "Você quer guerra da tinta, então vamos pichar a igreja inteira".

Começou um bate-boca entre os brasileiros e a organização. Foi quando, ainda segundo Cripta, o curador lhe atirou a água, e ele devolveu com a tinta amarela.

"O curador, que se diz um cara revolucionário, levou para o lado pessoal. É uma bienal política, que critica o sistema, mas tiveram que recorrer ao sistema para nos parar", disse Cripta. E os brasileiros passaram a escalar, desta vez de forma incontrolável, toda a igreja. O curador chamou a polícia. De acordo com o brasileiro, os policiais quiseram prender o grupo, mas, ainda segundo Cripta, recuou após intervenções do público e de explicações de que eram convidados da Bienal.





Então os policiais, afirma Cripta, anotaram os números dos passaportes e saíram.

Ontem os pichadores brasileiros permaneciam na capital alemã e fariam novas ações com um grupo de alemães que conheceram.



A bienal, que vai até o dia 1º/7, busca escancarar os conflitos da sociedade de hoje. Segundo o curador, em entrevista recente à Folha, a sua função é "negociar posições políticas conflitantes que visavam ações artísticas".



Procurada na terça-feira (12) para dar a sua versão do episódio, a curadoria da Bienal não se manifestou até o momento. "Eles nos convidaram porque queriam conhecer nossa 'pixação'. Pronto, conheceram", disse Cripta.

Via FOLHA DE S. PAULO
Ilustrada, quarta, 13/06/2012
Por JOÃO WAINER. Colaboraram FABIO VICTOR e MELINA CARDOSO, de São Paulo, e FABIO CYPRIANO, crítico da Folha. Fotos via Folha Online.

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