agosto 28, 2008

Eu gosto mesmo é de magrelas!


Não, não é o que estás pensando. Estamos nos referindo ao meio de transporte mais popular do Brasil: a bicicleta (ou "zica", como se diz aqui em Joinville). Li recentemente a revista Vida Simples, na qual trazia algumas análises muito interessantes sobre os meios de transporte, meio ambiente, políticas públicas e tudo mais que envolve o assunto. Resolvi compartilhar aqui algumas reflexões.

É incrível saber que os veículos são os maiores poluidores de São Paulo, mais do que a indústria. No Brasil, eles estão entre as maiores causas do aquecimento global, atrás apenas das queimadas, e são responsáveis pelos 5 bilhões de reais que o país gasta todo ano por conta de acidentes de trânsito, com despesas de indenizações e saúde (ocupam 40% dos leitos de pronto-socorros do país).

Uma das alternativas apontada para diminuir o uso do automóvel é a bicicleta. Infelizmente não existe infra-estrutura para muito mais gente utilizá-la como meio de transporte: paraciclos, bicicletários, ciclovias, chuveiro na empresa para tomar banho quando se chega ao trabalho, etc.

No Brasil, a bicicleta é o meio de transporte da maioria excluída do transporte coletivo. É o veículo individual mais usado no país, o meio de transporte mais popular nos pequenos centros urbanos, que representam 90% das cidades brasileiras. E o maior uso da magrela é para ir ao trabalho, e ainda pode ser mais rápida que carro em engarrafamento, que anda de 5 a 8 Km/h contra 15Km/h da bike.
Mesmo estando atrasado em relação à Europa, o Brasil parece estar dando os primeiros passos para promover a utilização da magrela. Em 2004, o Ministério das Cidades lançou o Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta, que tem aumentado a quilometragem de ciclovias pelo país. Só para ser ter uma idéia a Holanda tem um quinto do território de Santa Catarina e 14 vezes mais infra-estrutura que o Brasil todo.

O Rio de Janeiro lançou o programa “Rio – O Estado da Bicicleta”, planejando mais ciclovias e a implantação das bicicletas de aluguel, na qual o usuário retira a bike numa estação e deixa na outra, sendo a primeira hora de uso gratuita, como já acontece em Paris e Barcelona. São Paulo também está correndo atrás da iniciativa e pretende instalar 25 estações de bikes de aluguel, preferencialmente junto às estações de metrô entre o centro e a Avenida Paulista.
Esse sistema de biciletas comunitárias tem mais de 30 anos. O primeiro foi implantado em Lyon, na França, em 1975. Foi inspirado em um manifesto ocorrido em 1964 em Amsterdã, na Holanda, chamado "Plano das Biciletas Brancas" , no qual 15 jovens pintaram bicicletas de branco e espalharam pela cidade. Qualquer um poderia usá-las, e depois deixar para os outros usarem também. E onde está Joinville, a Cidade das Bicicletas, nessa história toda? Deve ter furado algum pneu pelo caminho e parou no tempo.
Em Aracaju tem até engarrafamento nas ciclovias nos horários de pico, com 163 ciclistas por minuto. No Distrito Federal a perspectiva é que sejam construídos 420 Km de ciclovias em dois anos e pretende tornar-se o local com maior infra-estrutura para bicicletas do Brasil!

A infra-estrutura deve vir acompanha de um projeto global de ciclovias, além de trabalhar a educação no trânsito. As Ciclorredes tratam disso: um emaranhado de caminhos preferenciais para as bicicletas, trazendo conforto e segurança, em ruas tranqüilas e arborizadas. A idéia é diminuir a velocidade máxima dos carros através da legislação, estreitamento de ruas, construção de mini-rotatórias nas esquinas, elevação da faixa de pedestre, etc. Trata-se do conceito de traffic calming, surgido na Holanda nos anos 60.
Infelizmente os motoristas abusam da velocidade em vias coletoras e locais, onde a máxima permitida é de 30 e 40Km/hora, e os veículos acabam se tornando os principais inimigos das magrelas. Novamente se trata de uma questão de educação. Ela deve começar com as crianças, na escola. Deve-se promover passeios educativos, conscientizar os alunos dos perigos do trânsito, e de que a bicicleta pode representar muito mais que um veículo de lazer.

A bicicleta pode tornar a rua muito mais aprazível. Têm escala muito mais humana que o automóvel, a velocidade é mais baixa e a pessoa fica diretamente em contato com as coisas e os outros, reumaniza as cidades. Além de fazer bem para a saúde, para o trânsito e para o meio ambiente.

Mas a melhoria do transporte público e a criação de infra-estrutura é apenas o começo. É preciso também trabalhar a cultura. Mesmo se existissem condições adequadas para se andar de bike muita gente ainda resistiria em utilizá-la, pois existe o fator status em jogo, o fator psicológico das pessoas, que optam pelo automóvel, pelo poder e simbologia que representa.

Paris, por exemplo, tem a melhor rede de transporte público: a maior rede de metrô, ônibus bons e baratos (é subsidiado, o usuário só paga 30% do custo), e mesmo assim 70% das viagens na cidade são feitas de carro. Por isso, é preciso parar e repensar valores. Não dá para pensar a cidade como se um dia todos fossem ter automóvel. A cidade tem que ser pensada para as pessoas, considerando o deslocamento do pedestre, dos ciclistas, da criança e do idoso.

Mesmo assim, a magrela parece ser uma luz no fim do túnel.

A seção "Post Verde" deste blog pretende informar e reunir algumas ações, publicadas aqui, que levarão à construção de um mundo melhor e mais civilizado, com desenvolvimento e sem comprometer o futuro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quem não gosta de uma magrelinha hein??? Boa para a saúde do corpo e da mente. A poção mais saudável gostosa de manter a forma.
É só escolher a trilha e vamos pedalar!!! Dorneles.