A função da Marca Brasil é agregar valor aos produtos e serviços brasileiros, além de ajudar nas exportações. Trata-se de uma espécie de selo de origem controlada, que, de acordo com as normas para seu uso, acompanhará os produtos de qualidade para exportação e todas as ações brasileiras voltadas para o exterior. Segundo Farkas, a marca que criou para o Brasil “é a impressão digital de um país-continente feito de belezas naturais, luminosidade, festas populares e manifestações culturais, traduzidos em cores que se superpõem, criando outras tonalidades, na nova imagem-símbolo”.


O Sol do artista catalão Joan Miro, marca da Espanha, talvez seja um dos exemplos mais conhecidos. A símbolo de Miró é certamente a porta de entrada do país na indústria do turismo e o transformou em um pólo de atração de investimentos significativos. É hoje uma das marcas-país mais valiosas do planeta. O Reino Unido, Alemanha, Canadá, França, Suíça, Austrália, Suécia, Itália, Japão e EUA são os Top 10. O Brasil também não está mal, ficando sempre entre os vinte países de marcas mais fortes no turismo.

“Uma cidade deve ser governada tanto por métodos políticos quanto empresariais. E um administrador tem a obrigação de saber que toda boa gestão é feita de ações táticas e ações estratégicas. (...) Os planos estratégicos pedem inventividade, ousadia e visão de futuro. É essencial projetar a cidade para as próximas duas, três décadas ou mais. E para isso é preciso resistir à tentação de governar apenas com os olhos nas eleições”, diz Baço. Sobre o artigo repassamos alguns trechos:

Foi aí que as autoridades decidiram investir numa campanha para devolver a auto-estima aos nova-iorquinos e conquistar os forasteiros. E lançaram as peças publicitárias com o famoso "I Love NY". Foi nesse momento que surgiu o lance tão simples quando genial de Milton Glaser, que criou a marca "I - coraçãozinho - NY". Hoje a cidade tem uma marca fortíssima.

Aliás, não é o único episódio a envolver um designer. Um caso interessante é o de Manchester, na Inglaterra, que há alguns anos contratou o designer Peter Saville (conhecido principalmente por seu trabalho com capas de álbuns para as bandas Joy Division, New Order e outros músicos de Britpop) para ocupar um cargo inusitado: diretor de criação da cidade. Manchester era uma cidade feia, chuvosa, triste. E precisava construir uma marca.
Depois da explosão de uma bomba do IRA, que em 1996 destruiu o centro vitoriano da cidade, as autoridades decidiram reconstruir o local. E mais: essa seria a semente para mudar a imagem da cidade. Peter Saville chegou ao conceito de "Manchester Original Modern". E faz questão de explicar que não é um slogan, mas um significante que revela a nova Manchester. Há uma série de ações concretas por trás desse conceito.

Desenvolver uma marca-cidade exige um exercício sério de branding, que vai muito além de um slogan e um logotipo. Deve-se criar percepções, introduzir valores e conquistar um território na mente das pessoas, de dentro e de fora da cidade. A marca-cidade é um ativo estratégico que ajuda a atrair investimentos, impulsionar as trocas comerciais, incrementar o turismo ou mesmo captar a atenção da mídia.
Construir uma marca é um trabalho difícil e os resultados demoram a aparecer. E, claro, não dá votos no curto prazo. Talvez isso explique o fato de nenhum político no poder se ter dedicado ao tema. Mas uma coisa é certa: quem investiu - e investiu bem - na construção da marca-cidade não tem do que se queixar.

Milão é moda. Nova York é efervescência. Paris é romance. Barcelona é cultura. Tóquio é modernidade. E Joinville é... Fica a pergunta: como a cidade é percebida dentro e fora das suas fronteiras? O fato é que não existe uma imagem forte e sustentada, porque as autoridades nunca se preocuparam em elaborar um projeto a sério.
As pessoas ingenuamente alimentam a ilusão de que basta escolher um tema e escrever frases. Joinville pode ser, por exemplo, a Cidade das Flores, Cidade das Bicicletas, Cidade da Dança, a Manchester Catarinense ou um pedaço da Europa no Brasil. Mas nenhuma dessas imagens se firmou porque não é fruto de um trabalho estratégico bem articulado. E porque talvez Joinville não seja nada disso.

É preciso que o próximo prefeito consiga ver para além das eleições e tenha coragem de lançar um olhar sobre o futuro. A questão é a seguinte: que cidade Joinville quer ser em 2030 ou 2040? Parece tempo demais para os políticos de vistas curtas, mas é um trabalho que precisa ser feito. E com método, organização e ambição.

- Por que eu devo fazer turismo em Joinville?
- Por que a minha empresa, que é da geração digital, iria para Joinville?
- Por que eu deveria considerar Joinville uma opção cultural?
- Por que eu, que sou um "cérebro", devo transferir o meu quociente intelectual para Joinville?
A maioria dessas perguntas teria respostas insatisfatórias. Porque não existe uma idéia clara do que Joinville representa na mente das pessoas. Hoje a cidade é um bom destino para os migrantes e para as empresas que vivem pela lógica das chaminés. Mas o mundo vive tempos pós-industriais e é necessário cada vez mais investir num progresso limpo e tentar atrair cérebros. Joinville quer ter uma imagem parecida com o Silicon Valley ou com a cidade de Cubatão?
Criar uma marca-cidade não é uma simples campanha de publicidade. (...) A marca não vive de frases, anúncios ou filmes, mas de um conceito. É preciso mudar mentalidades. É preciso levar a imaginação ao poder.” ]
José António Baço, jornalista e publicitário, pós-graduado em comunicação e marketing (INP-Lisboa), especialista em Pensamento Contemporâneo (PUC-PR), mestre em Cultura e Comunicação (UCP-Lisboa) e doutorando em Ciências da Comunicação (UNL-Lisboa). Aos domingos, escreve na revista Anexo D, de "A Notícia".

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